sábado, 7 de janeiro de 2017

Psicanálise hoje: faz sentido?

 

     Flávio Gonzalez: Psicanalista, Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias, Psicólogo, Teólogo, Mestrando em Aconselhamento e Autor de diversos Livros, entre os quais "Emprego Apoiado - Uma leitura Psicanalítica".  Está organizando, com a diretoria do CONBRAPSI, o Núcleo de Estudos Rubem Alves.   


     Inúmeras publicações existem questionando a validade da psicanálise em nosso tempo. Afinal, com tantos avanços na medicina, na psicologia mesma, faz ainda algum sentido falar em psicanálise?  A pressa é a marca do nosso tempo, assim como a praticidade, a busca de resultados objetivos e rápidos.  Assim, a neurologia, com seus amplos estudos de imagem, suas ressonâncias, suas respostas, vai configurando novas formas de tratamento, de intervenção. Uma nova medicação aqui, outra ali, uma nova “técnica” psicológica que reconstrua certos caminhos neuronais, refaça modelações e condicionamentos, desfaça pensamentos disfuncionais e, pronto, estamos curados!   Mas, a realidade não é bem esta. Lembro-me de minha falecida avó.  Depressiva e cheia de ansiedades, há uns quatro anos atrás ela me contou que estava tomando um remédio, um psicotrópico famoso.  Eu lhe perguntei - “mas, e então vó, melhorou?”.  Ela, na sua grande simplicidade, respondeu – “não muito, pois antes eu tinha muita vontade de chorar e chorava, mas agora eu sinto vontade, mas não consigo chorar e acabo me sentindo mal”.  Não vai aqui, de nossa parte, nenhuma restrição ou crítica à medicação ou mesmo outras diversas modalidades de terapias, inclusive as complementares: tudo isto pode e deve ser usado, com as indicações adequadas, feitas por profissionais competentes, que saibam o que estão fazendo, na medida do necessário. Entretanto, afirmamos categoricamente que nenhum destes recursos, por mais milagrosos que possam parecer, invalidam ou sequer substituem a psicanálise.  Esta, precisa evoluir sempre, claro, mas tem seu papel justo e definitivo junto à humanidade.
     Um “mito moderno” é, sem dúvida, a biologia, sobretudo no que tange às suas especializações mais complexas, a neurologia e a genética. Então, tudo volta, sem que percebamos, a ser reduzido e explicado pelas conexões cerebrais, pelos hormônios, a disfunção de alguma glândula com seus efeitos corticais etc.  Isto, porém, reedita a velha imagem do ser humano como máquina, o que é, de certo modo, negar nossa subjetividade e, principalmente a nossa “historicidade”.  Somos históricos sempre, já dizia o saudoso Hélio Pellegrino.  Por isto, sempre respondo que, se por um lado somos marcados pela nossa biologia, somos também, sem dúvida alguma, marcados pela nossa biografia.  Mais que marcados: somos nossa biografia.  Sejamos que formos, com o biótipo que tivermos e herdeiros de que herança genética for, uma coisa é certa: além disto, graças a isto, apesar disto ou por isto mesmo, temos uma história.  Sim, e nossa história passa pela biologia, mas passa pela História com seus aspectos geográficos, políticos, sociais, passa por todas as nossas relações mais íntimas e pessoais, passa por significados que atribuímos a cada trecho dela e por todas as escolhas que fizemos ou deixamos de fazer.  Enfim, temos, cada um de nós, não há como, uma história própria que é, precisamente, o terreno da psicanálise.  A biologia é parte desta história, não há dúvida, mas não é a história em si, pois esta foi tecida no terreno dos afetos, dos símbolos, dos sonhos, dos desejos, de tudo aquilo que nos constitui como sujeitos, como pessoas.  Digo sempre para meus eventuais alunos: enquanto tivermos história, haverá a psicanálise. Quando não tivermos mais história, a psicanálise acaba, mas também acaba a vida, pois esta é sempre biografia, nunca pura biologia, exceto se estivermos falando de vegetais. E digo sempre, de modo provocador: a psicanálise não faz sentido nenhum, mas busca o sentido que cada sujeito deu para si e para a própria história, ajudando-o a descobri-lo e, se for o caso, a refazê-lo. Nenhum remédio consegue fazer isto.  Como disse certa vez o velho Sartre, podemos curar uma neurose, mas nunca poderemos nos curar de nós mesmos.  É possível que um dia algum remédio cure definitivamente a depressão, a ansiedade e outros problemas humanos.  Quando este dia chegar, no entanto, cantaremos a canção do Arnaldo Antunes, “socorro não estou sentindo nada”, e buscaremos na psicanálise, enfim, um fio de humanidade que possa nos levar de volta ao centro de nós mesmo, pois é de lá, e apenas de lá, que é possível nos ligar ao outro, o que constitui o único sentido de nossas vidas.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Natal: o que a psicanálise tem a nos dizer ?





Flávio Gonzalez: psicanalista, membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias, psicólogo, teólogo, mestrando em aconselhamento e autor de diversos livros, entre os quais “Emprego Apoiado – Uma leitura Psicanalítica”.


     O fundador da psicanálise, Sigmund Freud, era assumidamente ateu.  Para ele a religião, como a cultura em geral, representava o mal estar da civilização, uma vez que são instrumentos para repressão e controle de nossas pulsões mais primitivas. Entretanto, ele não deixou de analisar diversos aspectos simbólicos da religião, inclusive casos de possessões demoníacas etc. Outros expoentes da psicanálise, entretanto, eram cristãos não ortodoxos, claro, pois isto seria incompatível com a psicanálise, mas definitivamente não eram ateus, entre os quais destacam-se Bion e, sobretudo, Winnicott, que, em nossa avaliação, foi um dos teóricos que mais longe levou a psicanálise depois de Freud. Winnicott era inglês, de família metodista, e, justamente numa carta a Bion, disse que não estaria disposto a abandonar sua espiritualidade em nome da ciência.  Podemos ainda citar Jung, claro, que, embora tenha se distanciado da psicanálise clássica, partiu dela e explorou de modo talvez mais profundo a dimensão religiosa do ser humano. Em uma de suas mais famosas entrevistas, ao ser questionado sobre se acreditava ou não em Deus, ele respondeu: “eu não preciso acreditar, eu sei”.
O que escrevemos aqui, deixa-se claro, é uma leitura do Natal a partir de ferramentas psicanalíticas, mas sem entrar no mérito teológico ou discutir as crenças e a fé de cada um.  Esta é uma questão de foro íntimo e não nos cabe invadir este território.
     Temos na belíssima imagem do Menino Jesus, nascendo numa pobre estrebaria, cercado de animais e de humildes pastores, embora visitado por reis, uma das mensagens mais poderosas que se poderia abstrair em termos psicanalíticos: em meio à animalidade, em meio à miséria, pode nascer e nasce aquilo que temos de melhor, de mais humano, de mais civilizado. Com efeito, é o divino brotando do animalesco, o sagrado emergindo do profano, o extraordinário que nasce em meio ao ordinário.  Como Buda, representado pela Flor de Lótus, como sendo a perfeição que nasce do charco, da lama, daquilo que mais indiferenciado e sujo existe, mas que guarda em si a potencialidade do belo, do bom, do justo. Assim, o Menino Jesus, Príncipe da Paz, nasce entre os animais e é colocado junto com seu pasto, lugar onde se alimentam.  Mais tarde, ele se fará pão e vinho, alimento dos homens. A mensagem parece nos dizer de seu poder de infundir em nós as grandezas do Alto, a representar as forças latentes de nosso inconsciente que podem nos levar a estágios mais diferenciados e superiores de desenvolvimento.  Alimentando-nos dele, como crianças que somos psiquicamente, nos tornaremos fortes, sábios, equilibrados com nossas forças antagônicas.
     O “inimigo” está dentro de nós.  Mas, esta criança pode nos trazer a paz.  Assim, a beleza na cena de Natal também nos revela esta outra sabedoria: os anjos, os reis, os pastores, os animais, enfim, todos, se curvam à beleza e leveza da criança, que é a criança em nós, como a se reportar ao que Freud dizia: “a criança é o pai do homem”.  Mais tarde, Jesus reforçaria isto ao dizer que “ninguém pode entrar no céu se não se tornar como este menino”.  É nosso “Eu” mais profundo, tocando o Sagrado, para nos lembrar que, felizes, livres, belos e generosos, só as crianças que fomos e, se as deixarmos pelo caminho, esquecida, perderemos a essência de nossa própria vida.  Assim, os reis se curvam diante da criança, para nos recordar que, soberana, apenas ela, a ser transfigurada na maturidade, entre páscoas e ressurreições que temos ao longo da vida, mas nunca vencida, nunca superada, pois ela é o eterno em nós, a gema do diamante que somos.
     E Jesus, ao contrário dos ícones sisudos e tristes com os quais às vezes o retratam, nos convida à alegria.  A célebre e imortal obra de Bach, “Jesus, alegria dos homens”, nos recorda disto. Seu primeiro “milagre” é numa festa, a converter água em vinho.  Mais tarde, na festa de páscoa que antecedeu sua morte, este vinho é convertido em seu sangue, a celebrar a união da terra com o céu, da vida e da morte, da dor e do prazer.  É a união dos opostos de que nos falava Jung, a harmonizar todo conflito interior e nos ensinar a estar em paz e plenos, na convivência com nossos conflitos.

     Jung acenou que não era fácil ser cristão, o que dificultava a vida psíquica dos ocidentais, pois Jesus é perfeição demais, difícil de imitar na prática. Um padrão muito superior, quase inatingível. Mas, apesar de todo o nosso materialismo, e toda a nossa ganância, de todos os nossos conflitos, é em nome dele que nos reuniremos com nossos entes mais queridos para celebrar algo que não sabemos muito bem o que é.  Apenas o nascimento de uma criança, que morreria mais tarde condenada à morte, mas que nos encheu de uma esperança eterna e irresistível e que talvez nos acene para o nossos mais altos destinos como pessoas, como indivíduos e como coletividade. Tudo isto é simbólico ou não, depende da fé de cada um, mas, seja como for, seja você ateu, muçulmano, judeu, umbandista, cristão, espírita ou nenhuma destas alternativas.  Seja você quem for, uma coisa é certa: você foi um dia criança e, sendo criança, você sonhou e imaginou, projetou no mundo sua esperança de felicidade. O Natal talvez seja apenas o momento de recordarmos desta criança que fomos, que ainda está lá no intemporal do inconsciente, e talvez queira lembrá-lo dos seus sonhos, das suas esperanças mais íntimas e secretas, a pedir de você hoje adulto, que de algum jeito possa atendê-la, não para que, ilusoriamente, a vida se torne fácil, mas simplesmente para que, fácil ou difícil, você a faça valer a pena. É tudo o que ela espera de você.  Em nome do CONBRAPSI: Feliz Natal!!

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O REGISTRO CBPSI: O QUE É ?

CBPSI é o Registro Profissional da nossa Organização. CBPSI é a marca registrada, a qual atesta a filiação espontânea do profissional ao CONSELHO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE E PSICOTERAPIAS, o que resulta em compromisso contratual ao cumprimento dos nossos requisitos éticos.
Cabe observar que o CBPSI, seja como marca registrada, tanto a Carteira (fisicamente), quanto numeração e Certificados, pertencem à organização e permanecem em usufruto de cada filiado, somente enquanto manter-se como tal e igualmente permanecendo cumpridor das normas éticas e qualitativas internas.
Em caso de desligar-se ou ser descredenciado, o profissional se torna ex-filiado, perdendo o direito de usufruir, nem mesmo divulgar-se com sua Carteira ou numeração de CBPSI, pois, além de anti-ético, seria ilícito, estando sujeito a sanções estatutárias e legais cabíveis.
Por todo este zelo e segurança em ser filiado ao CONBRAPSI é que proporciona tranquilidade maior aos Clientes, os quais ainda tem à sua disposição o próprio Conselho para dirimir dúvidas e até para funções de Ouvidoria quanto ao correto e ético desempenho profissional, nos contatando de qualquer lugar do Brasil através de e-mail, telefone ou Whatsapp.

sábado, 18 de junho de 2016

Não deixe o medo te limitar

Os sentimentos são as formas que encontramos de dar respostas ao que vivenciamos.  Todos eles são válidos e contribuem para nossa manutenção na vida, de forma saudável. Contudo, em muitos momentos, distorcemos emoções, e a manifestação dos sentimentos deixa de ser algo tão autêntico e natural.
O medo, por exemplo, é um sentimento adequado para nos livrar de situações de perigo eminentes, concretas. Porém, muitos de nós no decorrer da vida vai se  amparando nesse sentimento para justificar situações que não se baseiam em fundamentações definidas.
Sim! É normal que eu tenha medo de um animal feroz, ou que me incomode e fique apreensivo de estar sozinho em algum lugar já identificado como perigoso. Mas ter medo de viver?! Por quê?! O que te faz querer evitar o que ainda está por vir?
O medo, para muitos de nós, tem sido uma forma limitadora de prosseguir a vida. “Tenho tanto receio de ser mal-interpretado, de não ser bem sucedido que nem faço, nem tento!”
A censura começa dentro de cada um que resolve escolher não agir. Isso mesmo: O medo paralisa. E aí, de repente você não vai mais a lugar nenhum.
Emoções e emoções dando volta num mesmo lugar. Sem encontrar caminhos mais oportunos para dar sentido à vida. E a falta desse sentido adoece, entristece, faz de você e parte do mundo a sua volta mais embotado, menos feliz.
Não permita que o medo possa te dominar! Viva cada emoção que surja na sua vida de forma intensa e adequada. Dê nomes a tudo que aconteça com você. Dessa forma fica mais fácil de entender o que está acontecendo e faz parte do curso adequado das circunstâncias, e o que está exagerado e precisa ser revisto.
A vida nos oferece a todo momento oportunidades inesperadas. Não se sabote! Experimente o inesperado com a confiança de que está tomado atitudes corretas. Dê um curso adequado às suas emoções. Quem respeita o que sente consegue ter uma organização mental muito mais eficiente. E quando estamos centrados, de corpo e mente muita coisa boa se realiza!
Mude a sua forma de perceber e experimentar o mundo e entenda que a vida, sem limitadores desnecessários, é libertadora!

Renata Adriane- Psicóloga, Consultora e Palestrante. Gestão de Conflitos, Negociação, Liderança, Motivação e Sucesso são suas expertises. Tem um sólido trabalho desde 2007, descobrindo talentos, potencializando o trabalho de gestores e suas equipes através da valorização do diálogo qualificado.


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Transtorno de Compulsão Alimentar Períódica sob o Olhar Psicanalítico

TRANSTORNO DE COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA SOB O OLHAR
PSICANALÍTICO
José Kleber Fernandes Calixto


Transtorno alimentar é qualquer tipo de alteração relacionada a alimentação e que não esteja vinculada a fatores metabólicos, fisiológicos e econômicos, e que traga grande sofrimento à pessoa com perdas no campo psico-físico-social, em alguns casos extremos, podendo levar a própria morte.
            Embora, algumas abordagens possam atribuir esses distúrbios a fatores socioculturais como a supervalorização à magreza, estabelecendo um “padrão de beleza” que é impossível de ser atingido pela maioria, levando a sociedade a discriminar pessoas obesas, nem todas as pessoas que estão expostas a esse tipo de demanda social e que buscam o corpo ideal apresentam os mesmos transtornos alimentares mostrando a falha desse psicodiagnóstico descritivo.
            Neste sentido, ouvir o que a psicanalise tem a dizer nestes casos é imprescindível para uma compreensão mais profunda e desvendamento psicopatológico deste tipo de distúrbio.
            A compreensão e a interpretação destes transtornos que afetam o comportamento alimentar têm sua gênesis nas relações objetais infantis. O paciente apresenta como problemática central deficiências egóicas com severo prejuízo de seu self sofrendo alteração em sua própria imagem corporal ou em sua percepção ou interpretação dos estímulos corporais levando a um sentimento de impotência e falta de autonomia.
            Vale então neste momento perguntar: quem é esse ser com transtorno de compulsão alimentar?
Esse indivíduo em sua primeira infância viveu nas suas primeiras relações (pai e mãe) a falta do investimento narcísico (narcisismo primário) e a falta de auto-regulação (adaptação do Ego). Esta maternagem falha gera a síndrome do apego ansioso resistente, onde o bebe não sente o apoio protetor da mãe. A partir deste fator, a criança canaliza catexizadamente todo o investimento narcísico não recebido da mãe no desejo da gratificação imediata dada ao corpo que é o objeto de abandono na infância. Em outras palavras, toda a libido se volta para o corpo. Desta ausência vem a patologia do vazio absoluto, no qual é desvelado e inscrito no self o discurso da mãe sobre si – discurso de desamor, da desvalia, do desprezo. A mãe é o espelho onde a criança desenvolve a sua auto-idealização do corpo. O amor da mãe pelo corpo do bebe, deveria levar o bebê a se auto-idealizar formando assim uma autoimagem fortalecida e segura. É o que se chama a “fase do espelho”. A criança olha para o espelho-mãe e idealiza o seu corpo e espera o “reflexo” do espelho-mãe” que é a palavra carregada de afetividade, fazendo a criança se vê amada e desejada.
Contudo, em razão dos registros de desconexão da figura materna no self ainda em formação, estabelece-se o esquema onde o corpo é desinvestido da libido que lhe poderia garantir um preenchimento narcísico e um sentimento positivado de existência no discurso do outro. Neste momento, acontece odestroçamento da relação objetal com a perda da posição libidinal (de objeto de desejo) no qual a criança recebia todo o investimento amoroso maternal.
A partir desta perda, abre-se a ferida narcísica com inscrições de perda da onipotência e do Eu-ideal quebrando a cadeia integrativa do self (auto-estima, auto-segurança, auto-confiança), causando uma retirada da libido do objeto perdido (investimento materno) para o objeto abandonado (ego) representado e identificado no corpo. Diante destes eventos que circunscrevem a nova posição do sujeito no discurso materno, dá-se a formação de um self melancólico caracterizado por um sofrimento, um mal-estar psíquico avassalador que passa a reagir a esta perda através de uma pauta melancólica, por meio da qual o sujeito se situará no discurso sobre si dizendo: “eu não sou nada”, “eu não sou e nem nunca fui nada”.
Por causa do processo identificatório que o Self fez com o objeto perdido, ele assume um caráter violento contra si mesmo e entra num movimento de assassinato de si mesmo que ao mesmo tempo representa (imaginariamente) um ser sem valor e desprezível(por isso foi abandonado) e o objeto perdido que abandonou. O Self melancólico assim acende ao estatuto de vileza, de desvalia e de desprezo contra si mesmo atacando a si mesmo com autoacusações e autoflagelos.
Neste momento o ego tendo dois caminhos: a) Manter o objeto dentro de si, e assim, desiste do mundo, se retrair pra dentro quando acontece uma hemorragia de libido e de catéxia no próprio ego, gerando uma quantidade enorme de excitação que não é desfeita sem o objeto pedido, e assim causando uma tensão de igual intensidade no aparelho psíquico que não tem outro modo de ser desfeita senão através do sofrimento e da dor contra o próprio ego (representação do objeto perdido dentro de si [esta é a melancolia clássica que gera depressão com toda a sua sintomatologia porque na melancolia não há apenas a introjeção do outro, mas a incorporação do objeto]), ou b) desistir e abandonar o Self como locus de inscrição permanente do outro perdido e como mecanismo de defesa gerando um outra modalidade de sofrimento, que é a fixação do ego no processo primário regido servilmente pelo princípio do prazer e evitação da dor.
Neste estágio, o ego imaturo que prima-se por alcançar o prazer ou gratificação imediata, lança toda sua catéxia (energia libidinal) na busca de substituir o objeto perdido original por outros objetos que passam a representar (deslocamento) o discurso do objeto original (mãe). Isto faz com que todos os mecanismos de defesa do ego maduro não funcionem, funcionando apenas os mecanismos de defesa do processo primário (deslocamento, projeção, fantasias etc.) que visam apenas a manutenção discurso de Eu-ideal perdido no outro-originário, para os outros-projetados.
Neste jogo, o pensamento do indivíduo volta a ser o pensamento do processo primário, ou seja, ilógico, atemporal, confuso, não verbalizado e inconsequente. E neste processo de busca e reedição do gozo do objeto primário (mãe) em outros objetos (pessoa-alimento), encontra-se a fantasia da incorporação do objeto perdido (Torok). A perda sendo recusada, o indivíduo melancólico (melancólico porque não faz o luto da perda), através da identificação narcísica, tenta manter o objeto dentro de si através de representações deste objeto
Contudo, as falhas do primeiro objeto que abriram a ferida narcísica são novamente encontradas (porque são representações fantasmáticas) nos outros objetos, causando uma reedição da mesma ferida narcísica, o que leva ao mesmo discurso sobre si mesmo rejeitado, mas também introjetado (discurso de desvalia, de desamor e de desprezo). Com isso desperta no Self a dor melancólica do estatuto de perda do Eu-ideal e de EU-IDEAL-NO-OUTRO, o que gera uma neurose de angústia ficando assim como auto-imagem a sensação de vazio, de insatisfação e uma angustia que se revela na relação com o próprio corpo.
Em decorrência dessa reedição da perda do primeiro objeto, o ego já infantilizado regride-se mais ainda para dentro do processo primário ao ponto onde ainda separava o objeto bom do objeto ruim agindo com mecanismos de defesa esquizo-paranoide de natureza psicótica com característica oral-sádicas com prevalência do mecanismo de introjeção (pulsão de vida, libido).
Com o mecanismo de introjeção ativado, o ego quer engolir todos e tudo na busca da manutenção discurso de Eu-idealperdido.Com a não realização desse “desejo”,o ego finalmente parte para o vínculo alimentar que contemplaàs duas carências – o desejo da experiência de prazervindo do outro e a defesa contra a separação do outro.  O transtorno de compulsão alimentar denuncia o fracasso da relação objetal que no primeiro momento é representado pelas figura materna, no segundo momento (comportamento de reforço) na relação amorosa com as outras pessoas. Estas relações fixaram na psique a marca da falta e da dependência do outro, a sensação do “eu-vazio-sem-o-outro”. Sobrando o vínculo (alimento) como meio inconscientemente de recuperar a fantasia antiga de completude quando a criança (quando alimentada) finalmente se sentia amada, abraçada, linda e querida pelo o outro.
Tudo isso se deve por causa da maternagem falha,quando a mãe não se mostra suficientemente boa, adaptada às necessidades da criança, causando uma interrupção na construção do narcisismo que seria responsável pela construção da auto idealização.
Diante disso, o ego abandona o Self como local de inscrição da sua própria imagem, promovendoa fixação do ego no processo primário do estádio do espelho, onde a criança forma uma representação de sua imagem corporal por identificação com a imagem do outro. Essa fase do espelho deixa de ser uma fase de construção e estruturação da própria identidade a partir do investimento da mãe, o espelho (a mãe ou a imagem que é determinada por ela) torna-se a própria imagem do indivíduo que sempre é vista fora do self e do próprio corpo. Assim, o espelho é discurso do outro sobre si, que é uma imagem sempre igual, inalterada porque é uma imagem aprisionada a uma angústia vinda do discurso da mãe.
O espelho é sempre o mesmo (os olhos da mãe) sejam espelhos físicos ou discursos do outro, a imagem é sempre a mesma. Sozinha, não amada, incompleta.
A compulsão alimentar se dá pela voracidade (fase oral-sádica em que o ego se encontra) e inveja (que se instala na personalidade da criança/adulto. A voracidade por alimento se dá pela sua insatisfação pelo amor e atenção recebidos da mãe, o que leva também a uma inveja da mãe que a faz sempre ser faminta e se sentindo negligenciada. A fantasia da inveja é que a mãe deliberadamente recusou dar a ela o leite e o amor em benefício da própria mãe. Ela quer a imagem da mãe, ela quer a imagem do outro o que se dá fantasiosamente pela via da oralidade compulsiva que pela repetição continua tem o papel atender o pensamento obsessivo de ter o outro.
Como disse Abraham e Torok em seu livro “A casca e o núcleo” “Todas as palavras que não puderam ser ditas, todas as cenas que não puderam ser rememoradas, todas as lágrimas que não puderam ser vertidas serão engolidas, assim como, ao mesmo tempo, o traumatismo, causa da perda. Engolidos e postos em conserva”.

Prof. Dr. José Kleber Fernandes Calixto é Psicanalista e Membro do Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias.

Possui graduação em Pedagogia pela Faculdade de Teologia de Boa Vista(2010), graduação em Teologia pela Faculdade de Teologia de Boa Vista(2009), especialização em Pós-graduação Lato Sensu em Ensino Religioso pela FAI FACULDADES ALTO IGUAÇU(2015), especialização em Psicanálise Clínica pelo ASSOCIAÇÃO DARWIN DE EDUCAÇÃO E PESQUISA(2012), especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional pelo FUNDAÇÃO ÍTALO-BRASILEIRA(2012), mestrado em Hebraico Antigo pelo Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper(2011), aperfeiçoamento em FORMAÇÃO EM HIPNOSE CONDICIONATIVA pelo INSTITUTO BRASILEIRO DE HIPNOLOGIA(2013), aperfeiçoamento em HIPNOTERAPIA COGNITIVA pelo Instituto Brasiliense de Neuropsicologia e Ciências Cognitivas(2014), aperfeiçoamento em Hipnose Rápida pelo Instituto Eduardo Rocha(2014) e aperfeiçoamento em Hipnose Rápida pelo Instituto Eduardo Rocha(2015). Atualmente é professor da Faculdade Evangélica de Patos de Minas. Tem experiência na área de Educação.


Referências BibliográficasAbraham, N. & Torok, M. (1972). A casca e o núcleo. São Paulo: Escuta, 1995 Ferenczi, S. (1912/1992). O conceito de introjeção. Psicanálise I. São Paulo: Martins Fontes. Freud, S. (1914/1996). Introdução ao narcisismo. Obras completas, ESB, v. XIV. Rio de Janeiro: Imago. Freud, S. (1917/1996). Luto e melancolia. Obras completas, ESB, v. XV. Rio de Janeiro: Imago. Lambotte, M. C. (1997). O discurso melancólico – da fenomenologia à metapsicologia. Rio de Janeiro: Companhia de Freud.










segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Psicanálise Organizacional

Entendemos como organização, as instituições religiosas, clubes, associações de classes, de moradores, empresas de toda espécie onde precisamos entender que máquinas basta apenas trocar uma peça, o problema está resolvido, quanto ao ser humano dotado de inteligência e sentimentos provocados por sua trajetória de vida poderá produzir sintomas que só se resolverá  por especialistas, que entende de gente.

A psicanálise organizacional identifica a neurose da organização, ou seja, trabalha o recalque inconsciente constituído pelo fator comum entre os colaboradores e reforçam com qualidade de vida, tratando de tornar o homem um “ser” livre e que conhece seus limites, aprendendo a pensar por si mesmo, trabalha suas potencialidades bloqueadas e procuras desenvolvê-las.

A psicanálise organizacional tem por base, propor soluções para os conflitos das pessoas dentro das organizações, seus sofrimentos e dificuldades pessoais e interpessoais. (Valéria Labat, Graduada em Jornalismo & Marketing)



As pessoas constituem o principal ativo da organização. Esse é o principal paradigma adotado pelas organizações que pretendam não apenas se manterem no mercado, mas crescer, prosperar e tornar-se referência na sua área de atuação.

            As organizações dependem direta e totalmente de seus colaboradores para poderem cumprir sua missão rumo à construção de uma visão organizacional e, principalmente, na preservação e introjeção dos seus valores.

            Encontrar formas de transformar as pessoas não apenas em colaboradores engajados com a organização, mas em parceiros, que encontrem razões para formarem uma única equipe, com um único objetivo. Esse deve ser um desafio constante dos gestores que pretendam construir um ambiente laboral onde haja harmonia e colaboração de todos, lembrando sempre que nenhum ser humano por mais dotado que seja, é completo em si mesmo, sempre nos  completamos no outro.

De acordo com Peter Senge, autor do livro “A quinta disciplina”, as organizações devem ser capazes de mudar, de adquirir conhecimento e utilizar informações para se adaptar às novas circunstâncias, e para isso, devem preparar seus colaboradores para se adaptarem a essas mudanças. Segundo ele, somente se implementam mudanças em uma organização quando as pessoas estão dispostas a mudarem ou até mesmo a conduzirem os processos de mudança. Do contrário, as mudanças ficarão apenas na teoria.



                                                “O melhor negócio de uma organização ainda se                chama gente, e ver gente integrada na organização como matéria-prima principal também é lucro, além de ser um fator primordial na geração de resultados” (Romão, 2002).

                                               “Com gente saudável e feliz as empresas consequentemente se transformarão em organizações saudáveis e muito mais lucrativas”. ( Valéria Labat)


Acredito inteiramente que, a psicanálise como a arte de entender o comportamento é a pedra principal para a implementação de qualquer política estratégica.

Afinal de contas, fazer um planejamento é relativamente fácil comparado com outras políticas empresarias.

Hoje dependemos muito mais de profissionais que entendam de gente de que qualquer outra coisa.

 Pois as “coisas” nós usamos, mas as pessoas precisam ser valorizadas e amadas em toda a sua essência.



Dr. Garcia Marques, é formado em Comunicação Social e Pós Graduado em Executivo em Recursos Humanos e Psicanalista. Conselheiro de Ética do Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias - CONBRAPSI.


quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Conselho Brasileiro de Psicanálise e Psicoterapias

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